terça-feira, 12 de novembro de 2013

noite de lua cheia. saí para tomar sopa e me deparei com a apresentação experimental de um grupo de dançarinos de jazz, bem anos 80, com mocinhas vestidas de collant sobre meia-calça e polainas, mocinhos à la patrick swayze, com faixa de rambo na cabeça, e um coreógrafo calvo que nos revelou, de graça, o segredo do moonwalker.
em tempo: no moonwalker, você se apoia na ponta de um pé enquanto o outro se arrasta para trás com o calcanhar encostado no chão.
Noite de lua cheia. Saí para encontrar a Denise, colocar a conversa em dia, chorar umas pitangas e sorrir umas carambolas. No caminho de volta para casa, duas moças vindo em direção oposta à minha na calçada aproximaram-se subtraindo rápido o meu espaço. Em uma fração de segundos, quando já estava certa a minha colisão com a lixeira, a mais próxima de mim desviou-se apontando o dedo na minha cara e disse que vai dar tudo certo... você vai ver!
Na outra fração restante do segundo, num automatismo cristão respondi tudo bem e que tudo ia dar certo para ela também. Ela seguiu saltitando feliz pela calçada rua abaixo comemorando a confirmação com a amiga em altos berros de tá vendo? Eu disse!
Hoje o dia está difícil. Conforme as notícias chegam, imagino que a direção do mundo esteja nas mãos do Lars von Trier e que não fomos avisados.
Fui dar uma volta pela rua. Já na parte escura do quarteirão, depois da farmácia, fui abordada por uma mulher indo para os seus 55 anos, calculo. Pelos gestos, ela ia me pedir algo. 

Era para digitar uma mensagem. Repasso o código penal na cabeça tentando verificar se isso pode ser o começo inusitado de um novo crime na praça e digo logo que não posso. Mas ela, insistente e um pouco constrangida, se explica: "é para digitar no meu celular. Não enxergo as letrinhas à noite".
Pego o aparelho, parecido com o meu, e fomos para a claridade da calçada da farmácia para o ditado:
"Boa noite, meu paulistinha! Durma bem e que tenha bons sonhos..." e desfecha com "um beijo!", mandado meio que confessado. Enviei para o tal do Marcos, fui embora sem fazer perguntas, apesar de curiosa, e me sentindo como a Dora, do filme Central do Brasil.